Há exatos 20 anos comecei a trabalhar com contabilidade para pequenas empresas, trabalhando como contador funcionário em um grande escritório da Capital de São Paulo, depois passando por empresas de consultoria contábil e tributária, participando de inúmeros projetos de consultoria na empresa júnior da universidade até eu fundar o meu próprio escritório de contabilidade há um pouco mais de 12 anos.
Um fato curioso é que em todos esses anos, conversando pessoalmente com centenas de empreendedores, eu raramente ouvi algum deles confidenciar que estavam com o mesmo contador ou escritório de contabilidade desde que abriram o CNPJ. A grande maioria dos empresários passam por 3, 4, 5 escritórios de contabilidade e muitos, – por incrível que pareça, mesmo depois de passar por tantos profissionais – ainda sentem que não encontraram o que querem.
O problema:
O problema é que geralmente os escritórios de contabilidade são administrados por, adivinhem quem? Exato: contadores. E profissionais de contabilidade estão sempre atarefados demais atendendo as demandas do governo federal, estadual e municipal e raramente “sobra tempo” para escutarem quem realmente deveria importar: você, empreendedor.
Há alguns meses nós realizamos um workshop sobre planejamento tributário e na hora de se cadastrar as pessoas assistiam a um vídeo que eu gravei pedindo para elas responderem a seguinte questão:
Se você pudesse fazer qualquer pergunta para um especialista em contabilidade, qual você faria?
Recebemos exatamente 1.028 respostas neste formulário, e levamos mais de 20 dias para terminar de ler cada uma delas. Muitas delas foram perguntas técnicas e pontuais sobre os desafios pessoais de cada empreendedor, mas confesso que me surpreendi com a quantidade de feedbacks sobre a dificuldade que estes empresários têm com seus escritórios de contabilidade.
O mais interessante é que apesar das respostas serem abertas e – portanto, diferentes umas das outras – a grande maioria converge para pontos comuns. Veja abaixo, as maiores “aflições” dos empreendedores em relação aos seus escritórios de contabilidade e veja se você também se identifica:
1 – “Não entendo o que o meu escritório de contabilidade faz para mim, além, (claro) de me enviar impostos para pagar”….
A maioria dos empresários de pequenas empresas acham que pagam caro demais para os seus contadores, dado ao retorno que para eles é perceptível. Do outro lado, a maioria dos empresários de contabilidade afirmam que não conseguem cobrar dos seus clientes um valor justo, dada a quantidade de trabalho que realizam para cada empresa que atendem. Se observarmos os distintos pontos de vista, provavelmente chegaremos a conclusão que ambos estão certos, e o grande culpado por esta mútua insatisfação tem nome e endereço: “Governo” (Um pouco mais a frente eu explico!).
2 – “Não sei se esta tudo certo com a minha contabilidade, não sei se minha empresa esta enquadrada no regime tributário correto, não sei se minha empresa corre algum risco, não sei…”
Muitos “não sei” foram repetidamente ditos nas respostas que recebemos. A insegurança demonstrada por boa parte dos empreendedores em relação ao enquadramento fiscal de suas empresas, a exatidão em relação aos valores das guias de impostos que recebem, a qualidade da contabilidade feita e a pontualidade das entregas de obrigações acessórias que às vezes eles nem mesmo conhecem é de impressionar!
Como expectador e ao mesmo tempo participante deste mercado há 20 anos eu posso dizer que já tenho uma opinião muito bem formada sobre o motivo de tamanha insegurança e insatisfação destes empreendedores:
A maioria dos escritórios de contabilidade não conseguem estabelecer uma relação de fato estratégica com os seus clientes ao mesmo tempo que não se posicionam como geradores de conteúdo para os empreendedores (muitos na verdade realmente não se atualizam e até mesmo por isto não geram conteúdo algum aos seus clientes).
Contadores confusos?
Muitos contadores parecem confundir-se com o papel de despachantes, inclusive ainda existem muitos que atuam nos dois nichos em seus escritórios: quem nunca viu um luminoso com os dizeres “Contabilidade e Despachante” em suas cidades? E este é o real problema. Se um profissional se posiciona assim ele provavelmente entende que sua função é resolver um problema de burocracia para o seu cliente, e que o mesmo ficará muito satisfeito em receber sua DARF no final do mês pois não precisou se preocupar em gerá-la.
O espaço para escritórios de contabilidade que não se posicionam como consultorias e se dedicam a uma parceria realmente estratégica e consultiva para os seus clientes é cada vez menor, e isso tem feito as boas empresas de contabilidade caminharem para o uso intensivo de tecnologia, com foco no aumento da produtividade e maior atenção ao relacionamento com seus clientes através da geração de conteúdos, disseminação de conhecimento, transparência e rapidez no atendimento.
3 – Não recebo do meu contador relatórios, balancetes ou informação alguma que me ajude a administrar minha empresa.
Com o passar dos anos a informalidade vigente nas pequenas empresas, somada a falsa crença de que empresas enquadradas no Simples Nacional não precisam de balanço, balancetes, demonstrativos de resultados, enfim: não precisam de contabilidade; fez com que os escritórios relaxassem em relação a um dos seus principais papéis, que é o de fonte de geração de informações para a tomada de decisão.
O fato é que o nível de informalidade vem diminuindo a cada ano nas pequenas empresas, e nesse cenário, as informações contábeis estão – sim – tornando-se cada vez mais relevantes e necessárias para uma gestão financeira mais eficiente. E mesmo com o problema da “assimetria de informações” existente nas pequenas empresas, um gestor que não acompanha os balancetes da sua empresa pode ter problemas futuros em relação a prejuízos contábeis que não representam a realidade e podem prejudicar os sócios que ficarão sem fonte de renda oficial, ou do lado contrário: um lucro contábil acumulado no caixa em desacordo com a realidade financeira pode prejudicar a empresa, que pode perder oportunidades como a do novo pacote econômico do governo que permite amortização de dívidas fiscais com prejuízos contábeis.
Mútua insatisfação de empreendedores x escritórios de contabilidade, quem é o grande culpado?
Para finalizar, vamos retomar o raciocínio do primeiro paragrafo, onde falei da mútua insatisfação na relação existente hoje entre escritórios e seus clientes.
Recentemente o Banco Mundial publicou um estudo que demonstra que no Brasil, são necessárias 2.600 horas de trabalho por ano simplesmente para pagar os impostos e entregar ao Governo todas as informações obrigatórias.
Isso faz com que escritórios de contabilidade dediquem praticamente 90% do seu tempo para atender aos anseios do Estado em detrimento das necessidades gerenciais dos seus próprios clientes, ou seja: você paga por aproximadamente 2.890 horas do seu contador por ano, mas só pode levar 289, porque o resto destas horas que você pagou o Governo já consumiu. O fato é que você só enxerga e usa a ponta do iceberg, já que o resto é gasto com burocracia para o atendimento das exigências legais do Estado…..algo como a figura abaixo:
Qual a solução?
A solução para esse problema é o uso intensivo da tecnologia e da internet, que possibilita ganhos de escala por causa do aumento de produtividade dos escritórios. Uma nova geração de escritórios de contabilidade está nascendo: empresas que já começam digitais e desenvolvem uma relação efetiva com os seus clientes, com total integração entre as empresas com uso intensivo de ferramentas online.
Uma real integração entre sua empresa e o seu escritório de contabilidade, através da adoção de sistemas de gestão empresarial online integrados com o sistema de contabilidade do escritório possibilita maior agilidade, transparência, desburocratização e eficiência, fazendo que a equipe contábil tenha mais tempo para ajuda-lo com questões realmente estratégicas como planejamento e acompanhamento tributário, controle financeiro e gestão de riscos.
A contabilidade online não é só mais uma promessa, é uma realidade e uma resposta aos desafios comuns de empreendedores e contadores que precisam urgentemente caminhar juntos para o sucesso mútuo transformando uma assessoria, que hoje é percebida como custo para a maioria dos empreendedores, em investimento, o que traz retornos efetivos às empresas.